terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

MAXIMINOS, SÉ E CIVIDADE: UM ARTIGO PERTINENTE

Urge higienizar a política

De repente, o futuro tornou se curto. 
(José Saramago)

Embora ao retardador, a coligação de direita na União das freguesias de Maximinos, Sé e Cividade (Braga) acabou por perceber as regras da democracia e, em consequência, aceitou constituir a equipa do executivo da Junta conforme está determinado na lei, ou seja, promovendo a representação partidária com a aplicação do método de Hondt.
O processo arrastou-se penosamente durante quatro meses, e correu sérios riscos de ser obrigado a forçar um novo acto eleitoral para tentar solucionar o problema criado pela teimosia da coligação encabeçada por Luís Pedroso. Há dois ou três dias, porém, algumas das cabeças com responsabilidades na coligação de direita parecem ter readquirido alguma capacidade de pensar e, numa clara demonstração de bom senso, decidiram acatar finalmente os resultados eleitorais de 1 de Outubro de 2017. 
Como disse no início, a solução tardou demasiado e o protelamento da decisão mais lógica e expectável, como de resto se veio a confirmar agora, ficou a dever-se a uma incompreensível birra protagonizada pela coligação de direita. Ninguém colocou em causa o facto de o cidadão mais votado, que agora se candidatou pela coligação que agrega o PSD, o CDS e o PPM, assumir a presidência do executivo. Não, o que sempre motivou acesa controvérsia e o repúdio das outras forças foi o facto de Luís Pedroso se recusar a aplicar o método de Hondt, tentando impor uma lista integrada exclusivamente por elementos da sua candidatura quando a coligação de direita apenas conseguiu cinco dos 13 mandatos em disputa.

O acordo agora firmado prevê, portanto, um executivo plural, com dois representantes da coligação PSD, CDS, PPM (um deles o presidente Luís Pedroso), outros tantos do movimento SMSC (Servir Maximinos, Sé e Cividade) e um do PS, e é a expressão fiel da vontade popular, conforme decorre das eleições de Outubro passado. Pena foi que, entretanto, se tivesse perdido tanto tempo, se tivessem desbaratado esforços e, inclusivamente, se tivesse recorrido a artimanhas mais ou menos ardilosas para confundir a opinião pública. Até se pode perceber que o receio de novas eleições tivesse espicaçado o engenho de alguns responsáveis, levando-os a promover algumas dessas manobras para tentar iludir os eleitores daquela união de freguesias da cidade. Mas é perfeitamente inaceitável que em nome de interesses pessoais ou partidários se sacrifique um evento como a Via Sacra de Maximinos.
Não nos podemos esquecer que estamos perante um projeto que teve início em 2005, portanto já com raízes firmadas, e que tem granjeado prestígio ao ponto de ter sido integrado no programa da Semana Santa de Braga. Aliás, o coordenador geral da Via Sacra não tem quaisquer dúvidas em garantir que percorrida mais de uma década, este evento afirmou-se como marca cultural da comunidade maximinense, mas que já ultrapassou em muito as fronteiras do seu território.

Lamentavelmente, tal não obstou a que aquele responsável, também dirigente centrista e número dois da candidatura de Luís Pedroso, viesse a público assumir o cancelamento do evento, responsabilizando por tal o impasse político na composição dos órgãos de governação da Freguesia. Curiosamente, ou talvez nem tanto, na mesa da conferência de imprensa que deu o facto como consumado, encontravam-se os dois primeiros elementos da lista da coligação de direita Luís Pedroso, como coordenador do orçamento, e Francisco Mota, como coordenador geral da Via Sacra. 
Mais do que certas promiscuidades, o que assusta e causa repugnância é uma certa maneira de estar na política que, por sinal, se tem generalizado em Braga, e que pode sintetizar-se no velhinho não olhar a meios para atingir os fins em vista. 

Ora, a política não se pode identificar com posturas desse tipo e, nessa medida, não pode valer tudo. A política tem que retomar o seu caminho inicial como actividade nobre o que nunca poderá ser compaginável com agentes que utilizam métodos desses. Esses, quais vendilhões do templo, devem ser afastados, a bem da higienização da política.
O que aqui fica dito no plano dos princípios aplica-se ao caso de Maximinos mas óbvia e infelizmente não se esgota nesta autarquia. Neste caso, aliás, até se pode dizer que os intervenientes terão ido beber algumas das ideias, algumas das teimosias, algumas das formas inadmissíveis de pressão aos directórios partidários e aos seus representantes no executivo municipal.

https://www.correiodominho.pt/cronicas/urge-higienizar-a-poltica/9412



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